Revista “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Revista nº 424, Ano 1997, Pág. 418
DE “REI DO ABORTO” A DEFENSOR DA VIDA
Em síntese: O Dr. Bernard Nathanson chegou a ser considerado “o Rei do Aborto”. Praticou cinco mil abortamentos numa clínica que realizava cento e trinta operações desse tipo por dia. Aos poucos foi concebendo o horror de suas práticas. De judeu ateu que era tornou-se católico, havendo sido batizado pelo Cardeal O’Connor, arcebispo de Nova Iorque, aos 9/12/96. A trajetória do Dr. Nathanson é brevemente relatada nas páginas subseqüentes.
O Dr. Bernard Nathanson tornou-se famoso pela prática do aborto. Eis porém, que, após um total de cinco mil abortamentos aproximadamente, tomou consciência do valor da vida humana e resolveu abandonar sua prática abortista. Judeu e ateu, foi-se aproximando do Catolicismo até receber o Batismo aos 9/12/96. A seguir, vão relatados alguns traços de sua carreira de médico e religioso.
1. A Conversão
O Dr. Bernard Nathanson, médico judeu norte-americano, foi chamado “o Rei do Aborto”. Ele mesmo escreveu: “Ninguém tem mais experiência de abortamentos do que eu”. Fundou em 1969 a Liga Nacional do Direito ao Aborto (NADAL), para fazer propaganda em favor da legalização oficial da interrupção da gravidez. Por meio da propaganda nos meios de comunicação social procurava influenciar a opinião pública.
“A partir de 1871 - escreve ele - dirigi a maior Clínica abortista do mundo. Tinha dez salas de operação e trinta e cinco médicos às minhas ordens. Realizávamos cento e trinta abortos por dia, mesmo aos domingos. Só não trabalhávamos no dia de Natal. Tenho de confessar que foram praticados, às minhas ordens, sessenta mil abortos. Eu, pessoalmente, fiz uns cinco mil”.
Aos poucos, porém, o Rei do Aborto foi-se compenetrando da gravidade do que cometia; estava matando crianças inocentes. E foi-se enojando do seu trabalho.
Ao perceber a hediondez do aborto, Nathanson começou a questionar a sua própria vida. Pensou em suicidar-se não só por causa dos múltiplos crimes que cometera, mas também por causa de sua vida pregressa: fizera três casamentos fracassados; não fora bom pai com seu filho José, que estava com trinta e um anos; havia feito o aborto até de um filho sou. Declarou ele: “Eu sentia como a carga do pecado se tornava mais pesada e angustiante”.
Até 1980 foi um judeu ateu. Em 1980 começou a voltar para Deus. Escreve Nathanson:
“Persistentemente, amorosamente, desinteressadamente rezavam por mim, e não tenho a menor dúvida de que tais orações foram atendidas. Pensando nas pessoas que o fizeram, muitas delas desconhecidas para mim, meus olhos enchem-se de lágrimas”.
Começou então Nathanson a ler os testemunhos de pessoas convertidas a fé católica. Leu e releu a biografia de Malcom Muggeridge. Walter Percy, Graham Greene, Simone Weil, Richard Gilman, Pascal e Cardeal John Henry Newman.
Durante um ano assistiu aos Cursos de Ética no Instituto Kennedy, da Universidade de Georgetown, e começou a conversar com freqüência com o sacerdote John Mc Closkey do Opus Dei. Diz Nathanson:
“Ele soube que eu estava-me aproximando do Catolicismo. Procurou-me e pusemo-nos a conversar semanalmente. Veio à minha casa e trouxe-me material para ler. Guiou-me pelo caminho que me conduziu aonde estou agora. Devo a ele mais a qualquer pessoa”.
Finalmente aos 9/12/96 recebeu o Batismo das mãos do Sr. Arcebispo de Nova Iorque, Cardeal O’Connor, na catedral de São Patrício. Pouco depois, num dia de manhã, em Missa simples, da qual participaram cerca de vinte e cinco pessoas, o próprio Cardeal ministrou-lhe a Crisma e deu-lhe a Primeira Comunhão. Eis o depoimento do convertido:
“Quando aceitas cristo, nada perdes. Eu continuo a ser judeu étnica e culturalmente. Orientado a minha vida para Cristo, não sinto sujeição a coisa alguma, nem a quero sentir. Havia convertido a minha vida num caos; ninguém podia Ter procedido pior. Agora estou nas mãos de Deus”.
Com setenta e um anos de idade, Nathanson quer resgatar o tempo e compensar o mal que cometeu. Exerce suas funções de ginecologista em zonas pobres, dentro e fora dos Estados Unidos; percorre vários países como a Espanha e Portugal ensinando a respeitar a vida humana. Editou um vídeo em que mostra o feto a estremecer no seio materno por causa das dores que sente quando lhe aplicam o fórceps para extrair. Escreveu também alguns livros, entre os quais uma autobiografia intitulada “A Mão de Deus”. Nesse livro declara:
“Fracassei em três casamentos e tenho um filho que é ressentido e desconfiado, ainda que brilhante na ciência dos computadores. Tenho uma bagagem moral tão pesada que, se a levasse para o outro mundo, eu me condenaria por toda a eternidade, talvez de maneira mais aterradora do que aquela que o poeta Dante descreve na sua Divina Comédia”.
Termina seu livro autobiográfico sem jamais Ter justificado o seu comportamento anterior e exprimindo confiança na misericórdia divina, no perdão de Deus e na salvação que vem de Jesus cristo por intermédio da Igreja Católica:
“Alguém morreu por meus pecados e minha maldade há dois mil anos. O Deus do Novo Testamento surgiu diante de mim como uma figura amável, magnânima, incomparavelmente terna, em quem eu podia procurar e encontrar o perdão que tinha buscado tão desesperadamente durante tanto tempo”.
Antes de seu Batismo, dizia: “Ficarei livre do pecado. Pela primeira vez na vida, sentirei o refúgio e o calor da fé”.
O depoimento do Dr. Bernard Nathanson sugere algumas ponderações.
2. Refletindo...
Os dizeres e a vida de Nathanson podem inspirar seis tópicos de reflexão.
1) A ciência em nossos dias sabe com certeza que o feto é um ser humano; é sujeito de direitos, entre os quais o direito à vida. Não se pode dizer, como outrora, que a animação ou a hominização se dá quarenta ou oitenta dias após a conceição.
2) A ciência sabe também que o aborto é um homicídio, e um homicídio bárbaro, cometido contra um inocente. A este são aplicados métodos mortíferos que nem aos prisioneiros dos campos de concentração nazistas eram aplicados.
3) A graça pode atuar em qualquer pecador, levando-o ao arrependimento e à conversão. Diz São João: “Tranqüilizaremos o nosso coração, se o nosso coração nos acusa, porque Deus é maior do que o nosso coração” (1Jo 3, 19s). Deus é o Pai que recebe de braços abertos o filho sinceramente arrependido e o coloca em seu lugar de filho da casa ou de cidadão do reino dos céus (cf. Lc 15, 20-24).
4)O judeu que se faz cristão, não deixa de ser judeu, pois Jesus Cristo é o Messias prometido a Abraão e à sua descendência. É lógico que um judeu se torne cristão, visto que o judaísmo é essencialmente a expectativa do Messias. Jesus provou que era e é o Salvador aguardado pelos profetas e pelo povo de Israel.
5) É de grande valor para todo ser humano (especialmente para o cristão) ler o itinerário religioso dos antepassados convertidos, como fez Nathanson. São manifestações da multiforme graça de Deus e desse singular amor de Deus às suas criaturas, por mais frágeis e pecadoras que sejam.
6) Á semelhança de Nathanson, o cristão se empenha pelo repúdio ao aborto que ameaça o povo brasileiro, consciente de que a nação que mata seus filhos se condena a sofrer as conseqüências da criminalidade.
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